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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A moça

Moça

Vou contar a história de uma moça.

Na verdade eu não a conheço.

Bom, eu conheço a alma dela.

E isso pode significar alguma coisa.

Mas a metade de sua alma, eu conheço pela minha imaginação, afinal, ela é apenas um personagem, e eu 
faço dela o que eu quiser.

Essa história pode parecer um pouco confusa, sim, a moça é uma confusão em pessoa, e é por isso que eu gosto dela.

Ela é feliz, sim, ela é.

Mas ela não leva muito bem esse negocio de felicidade não, sabe?

Eu acho que ela vive procurando, mas ela acha que nunca acha.

Ela não sabe amar.

Porque ela nunca deixa ser amada.

Ela é egocêntrica.

Acha que o mundo gira em torno dela.

Ela é neurótica.

E ela tem um vício: o da tristeza e da depressão.

Ela gosta de chorar e geralmente faz isso pra chamar a atenção de quem ela nem sabe quem é.

Ela ri também, aliás, ela até que ri muito, e muitas das vezes sem vontade de rir, porque ela quer mostrar a 
felicidade que ela não tem.

Ops, eu não estou falando que ela é infeliz, me compreenda. Eu só estou falando que ela não é TÃO feliz, o que é totalmente diferente.

Na verdade, eu a acho meio perdida. Meio não, TOTALMENTE.

Ela se vê princesa.

Oh! Existem princesas? Príncipes? Não, né? Sinto muito, moça, mas você pode tirar os contos de fadas da 
cabeça, viu?
Ela vive dos clichês da sociedade.

E ela acha bonito falar o pouco inglês que sabe.

Ela acha que tem muitos amigos.

Mas na verdade, na maioria das vezes, se sente sozinha.

Ela fala, e só escuta o eco, a voz dela volta pra ela.

Ela sempre quis seguir os conceitos de sua mãe.

De que a mulher tem que casar com o primeiro namorado, cuidar dele, e viver com ele pra sempre, bom, 
mesmo que ela não seja feliz.

Mas como eu disse que ela procura a felicidade, ela não podia segurar o que sua mãe colocou na sua 
cabeça. Ela não era feliz. Partiu pra outra. E continuou deprimida.

“Oh, que frustrante, não consegui segurar um casamento, eu sou uma fracassada, vou procurar uma psicóloga, me entupir de remédios e viver na depressão.”

Bom, digamos que ela perdeu algum tempo de sua vida quando decidiu fazer isso.

Ela não gosta de perder tempo.

Ela não gosta de perder nada.

Ela só quer ganhar.

A ganância de viver é muito grande. Tá, o problema é que ela não sabe viver.

Ai ela decidiu começar a ler livros de auto-ajuda, já que de nada adiantava gastar uma fortuna com remédios e psicóloga. 

Mas acho que ela era inteligente, impulsiva.

Ela era muito agitada praquilo.

Ela não sabia esperar nada.

Nem mesmo a felicidade e amor que ela sempre quis.

Foi atrás.

Ah, esqueci de falar, ela nunca esperou alguma coisa sentada.

Ela era impaciente demais pra isso.

É, tai uma qualidade da moça.

Até que enfim.

Ah, o outro príncipe que ela procurou, ela achou. PERAÍ, CARAMBA, JÁ FALEI COM VOCÊ, SUA TEIMOSA, NÃO EXISTE PRINCÍPE. UFA! Você me cansa, sabia?!

Ela gosta de procurar aquilo que ela sabe que não existe.

Procurou o príncipe, encontrou, viu que ele não era príncipe, e se foi, mais uma vez.

Sofreu de novo.

Fez terapia de novo.

Tomou remédios de novo.

Sofreu mais.

Chorou mais.

Ficou mais feia.

Ficou mais velha.

Olhava-se no espelho e só via a solidão e a tristeza.

“Sou um fracasso” - ela dizia.

Isso me deixa triste, moça.

Eu gosto de você. Eu te fiz.

Tento mudar isso, mas você não deixa. 

Tá, vou continuar.

A solidão da moça só aumentava, a depressão também.

Ela já não conseguia dominar seu próprio ser.

Muito menos eu.

Mas ela cansou de sofrer, sim, ela cansou de verdade.

Tomou o famoso chá da felicidade. Eu não conheço e nem confio nesse chá. Por isso eu bem sei que ela não vai ser feliz com ele.

Mas ela é teimosa.

E tomou um chá de camomila, com erva-doce, mais um pouco de boldo e pronto, ela era feliz.

Ah, que legal!

Vamos voltar para estaca zero em 3, 2, 1...

Ops, chá de felicidade não fez efeito.

Bom, ela sentiu o efeito.

De repente a moça acordou realmente feliz.

Colocou uma música que ela nunca tinha ouvido na vida. Era aquele tipo de música que ela chamava de “mau gosto”.

E ouviu, cantou junto, dançou junto. Ela tava realmente feliz.

Ela conseguiu, pela primeira vez na sua vida, enxergar o dia, como ele tava bonito, o céu azul, o sol brilhando, as flores, os pássaros, aquilo enchia a sua alma de felicidade.

Ela se sentiu livre.

Limpa daquela depressão.

Ela nasceu.

E olhou o além, o além do que ela sempre viu. Como é bonito esse além.

Como as pessoas são bonitas.

Como o mundo está sofrendo, ele tem fome, ele tem sede, frio, ele tem medo.

As crianças desse mundo sofrem, trabalham para sustentar a família.

“Meu deus, tanta coisa. E eu nunca parei pra pensar nisso. Eu só pensei em mim o tempo todo. Como 
fui uma idiota, sofri com o que nada importava”.

Ela cobrava muito dela. Mas até que enfim ela acertou em alguma coisa.

Ah, mas ela ficou tão melhor, não?

Ela parou de esperar a perfeição nela e nas outras pessoas que estavam ao seu redor.

Ela percebeu que nada valia suas roupas caras, as suas viagens para NY, seu grupo de amigas que eu chamava de “clube da luluzinha”, seu dinheiro.

E ela ficou sozinha?

Não, ela conheceu novas pessoas, porque ela aprendeu a ler almas, a esperar sempre os erros, a imperfeição do outro, e isso fazia a moça feliz, e ela fazia as pessoas felizes.

Ela descobriu que vale muito mais do que ela pensava.

Ela vale o mundo.

Ela é um espírito.

Que pode voar e voltar quando quiser.

Que pode morrer e nascer quando quiser.

Que pode ajudar as pessoas.

Que pode ser menos egoísta.

Ela descobriu que príncipes não existem, e que são chatos.  

Que ela não é o centro. Mas sim, quando está perto das pessoas que ela gosta e que precisam da luz que ela tem de verdade. Porque sim, ela tem luz, e não fui eu que criei, ela sempre teve. Só não achava.

Ela é o centro de sua vida.

E ela é enfim livre, livre dela mesma.

Perfeição? O que é isso? A coisa mais chata do mundo.

Ass. Moça livre, livre até mesmo dessa autora, tal de Raissa.





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